quarta-feira, 13 de junho de 2007

Seja revolucionária, case-se.


Algumas pessoas consideram-se revolucionárias por sua recusa em se casar. Acreditam que sua negação firma uma posição política contra as instituições caretas que empurram casais para o pé do altar. Sentem-se libertárias, donas do próprio nariz, superiores aos reles mortais que trocam votos na frente de um padre, rabino, pastor ou monge, assinam papéis, cortam bolos fazendo discursos e andam arrastando latas em carros grafitados com palavras de chantilly.
Essas pessoas têm certeza de que, declinando a cerimônia e/ou o próprio ato de viver com outro alguém, estão assumindo um lugar de não-manipulados por comédias românticas com a Meg Ryan, família, igreja, sociedade, etc.

De certa forma, elas estão certas. Ser solteiro é o máximo. Você não precisa dar satisfações a ninguém. Vai aonde quer, quando e como quer. Pode mudar de vida, cidade, país a qualquer momento, sem que isso represente um atentado às bases de sustentação da psique de sua cara-metade.
Numa sociedade acelerada como a nossa, é inevitável conhecer pelo menos uma pessoa muito interessante de vez quando – o que complica bastante o fato de estar atrelado a alguém.
Motivados por essa consciência e gosto pela exposição, os solteiros se dedicam com afinco a estarem atraentes física e intelectualmente. Solteiros tem corpinho em cima, e repertório.
E, a questão não para por aí. Solteiros saem mais, freqüentam mais bares, boates, restaurantes cinemas e teatros. São vistos com freqüência em locais públicos dando gargalhadas, quando não estão trocando olhares perigosos com outro alguém.

Diante de dados tão explicitamente tendenciosos para uma vida avulsa, cabe perguntar: o que faz uma pessoa querer se juntar a outra, a esta altura do campeonato?
É difícil saber, já que a escolha de trocar de estado civil é sempre particular.
Um olhar? O jeito de se aninhar no ombro do outro na hora de dormir? Um sorriso que ilumina os lugares por onde passa?
Pode-se creditar também ao otimismo: acreditar que vai construir uma casa linda, com filhos saudáveis, habitadas por pessoas que se gostam de verdade e que estão lá umas para as outras sempre.
Ou a um desejo de profundidade, intimidade e qualidade de relação que, levados a sério, catapultam a pessoa para um nível sexual, existencial e amoroso bem mais sofisticado.

É claro que entre as condições necessárias para se estabelecer esse tipo de convivência estão a sorte de encontrar alguém bacana, uma boa dose de utopia, criatividade, disposição, e, fundamentalmente, inteligência. Há que ser inteligente para guiar a vida para o bem. É um exercício diário.

Se levarmos em conta que o pesadelo recorrente contemporâneo é o casal assexuado de pijamão, chegamos à conclusão de que quem se casa nos anos 00 é um sonhador, quase um visionário.
O que faz dos noivos contemporâneos pessoas à frente do seu tempo. Que já viram o antigo casamentão se fossilizar, já experimentaram a liberdade das relações descartáveis, e estão apostando que existe uma pessoa que vale seus sonhos, metade da sua cama, suas horas de lazer, seu silêncio, seu prazer, seus filhos.
E isso, em plena era do hedonismo, é que é revolucionário.
Luciana Peçanha

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